sexta-feira, setembro 01, 2006

Cães, abutres e águias

Não sei se foi sonho
ou se foi delírio na noite.
Não sei se estive em outro mundo
ou se foi tudo imaginação.

Nasci entre os cães
dias e noites sucediam-se
num círculo infinito.
Alimentava-me dos restos no chão
misturados a minhocas e vermes.

Quando comecei a andar
sobre dois membros
percebi muitas diferênças:
minha língua era pequena,
não possuía pêlos e cauda,
minha mão era mais hábil
e minha visão não era tão boa na escuridão.

Olhei para os lados
e não vi horizonte,
mas somente pedras e penhascos.
Então, voltei-me para o céu
em busca de espaço e luz.

Conheci os abutres
e sua paciência na espera por um cadáver.

E senti medo e me escondi.
E não falei nada e chorei baixinho.

E esperei, e observei e cresci.
E descobri-me Homem.
Então, subi as montanhas
e fiz minha morada entre as águias e as nuvens.

Abraços poéticos,

Allan Lima
Belém-Pará